3R Brasil Tecnologia Ambiental

TÉCNICA OURO DE AVALIAÇÃO DE RUÍDO EM FONE E HEAD-SETS (ISO 11904-2)

12.08.20 12:39 AM By Roger

O ruído no local de trabalho é responsável por 16 a 24% da perda auditiva iniciada por adultos em todo o mundo e é a segunda lesão relacionada ao trabalho com maior reclamação (ref. Noise and Health / G.Nassrallah; C.Guiguere, N.Ellaham. Nos Estados Unidos, 22 milhões de trabalhadores estão expostos a níveis de ruído potencialmente prejudiciais e a perda auditiva induzida por ruído ocupacional afeta 10 milhões de trabalhadores. Na União Europeia, 7,2% dos trabalhadores relatam problemas auditivos relacionados ao trabalho.


Entre vários fatores, o aumento do uso de fones de ouvido com e sem fio está levantando preocupações quanto à exposição a níveis de ruído potencialmente perigosos. Os fones de ouvido de comunicação são comumente encontrados em locais de trabalho, como call centers, lojas de varejo, lanchonetes, guardas patrimoniais, torres de controle, áreas industriais e de construção e atividades militares. Embora o uso em ambientes ocupacionais varie, em todos os casos o trabalhador é exposto ao ruído do ambiente de trabalho e aos sinais de comunicação de áudio do fone de ouvido. Os usuários geralmente ajustam a configuração de volume do fone de ouvido de comunicação para superar os efeitos do ruído de fundo, a fim de garantir a recepção adequada do sinal de áudio, como a fala, buscando a inteligibilidade. Dependendo da situação, os sinais de comunicação podem ocorrer de forma contínua ou intermitente; e quando presentes durante a jornada de trabalho, podem ser considerados fontes significativas de exposição ao ruído.


Dado o aumento do uso de fones de ouvido de comunicação na última década, são necessários ferramentas e métodos de medição adequados para avaliar a exposição ao ruído desses dispositivos no local de trabalho. No entanto, vários desafios metodológicos e metrológicos surgem ao realizar medições de ruído com fones de ouvido de comunicação: 

 

  1. Primeiro, quando um dispositivo está inserido no ouvido, as medições tornam-se dependentes das propriedades acústico-mecânicas da cabeça, orelha e canal auditivo.
  2. Segundo, os sinais de áudio gerados pelo fone de ouvido e os ruído externos de fundo que passam pelo fone de ouvido contribuem para a exposição total ao ruído e devem ser considerados.
  3. Terceiro, o trabalhador deve ser capaz de operar normalmente durante o período de registro em campo para obter uma avaliação válida sob condições de trabalho realistas. 

Finalmente, como a avaliação da exposição ao ruído ocupacionais normalizadas se baseia em medições de campo sonoro livres ou difusas, as medições intra-auriculares devem ser convertidas em níveis equivalentes de exposição aos campos sonoros na altura do ombro para permitir uma comparação com limites de exposição regulamentares, por exemplo, 85 dBA. Necessitando de correções individuais quando aplicado a técnica MIRE, mais complexa por não usar um número único para a correção, mas em função das correções das terças de oitavas por colaborador. Dado este negligenciado pela maioria dos profissionais que aplicam esta técnica.

Há equipamentos como o SV 102 da Svantek que permite o uso direto do MIRE, contudo, devido a individualização da medição com este método há a necessidade de correções dos valores metidos para campo difuso e comparação direta com os limites normativos. Abaixo deixamos um vídeo que mostra como isto corre.


Vídeo explicativo com a técnica com microfone MIRE (ISO 11904-1): Clique aqui.


Apesar dos desafios devido as complexidades inerentes ao método e as considerações no momento das avaliações, vários métodos foram propostos e utilizados nos últimos quarenta anos para avaliar a exposição a ruídos do uso de fones de ouvido em vários locais de trabalho. Estudos de campo foram realizados para avaliar a exposição a ruídos de operadores de rádio, militares, operadores de centros de chamadas e comunicações, bem como trabalhadores de outras ocupações. Os resultados destes estudos indicam que a exposição ao ruído dos fones de ouvido de comunicação geralmente depende do ruído externo de fundo, o tipo de fone (auricular ou de inserção), dentre outros, podendo facilmente exceder os limites regulamentares em atividades laborais trabalho ou situações de lazer, especialmente em ambientes ruidosos.


Várias normas nacionais e internacionais (por exemplo, ANSI / ASA S12.19, ISO 9612, ISO 1999) descrevem métodos para medições de ruído em ambientes ocupacionais usando medidores de nível de pressão sonora (IEC 61672) e dosímetros de ruído (IEC 61252) com funções normalizadas. Esses métodos pressupõem que as fontes de ruído não estão próximas aos ouvidos. Como tal, eles não são diretamente aplicáveis à medição de ruído em fones de ouvido de comunicação, necessitando integração com as técnicas de medição de campo próximo. Consequentemente, a ISO 11904 descreve dois métodos especializados para a medição de ruído para fontes próximas aos ouvidos. O primeiro método descrito na ISO 11904-1 define um microfone em um ouvido real (MIRE), em que medições acústicas são realizadas usando microfones em miniatura ou sonda inseridos nos ouvidos dos trabalhadores e depois convertidos em campo livre equivalente ou difuso, isto é, para os níveis sonoros de campo regulamentados. Para as correções devem ser realizadas medições simultânea na altura do ombro de cada colaborador (individualizando as correções).


O segundo método descrito na ISO 11904-2 define as medições sonoras realizadas com um manequim acústico, compreendendo um simulador de orelha e microfone embutidos e medidor normalizado, chamada de técnica da cabeça artificial. A construção do manequim permite uma simulação das propriedades acústico-mecânicas do tronco, cabeça, pinça e canal auditivo para um adulto médio. Em qualquer um dos métodos, os níveis de pressão sonora são ponderados para o ouvido humano e podem ser analisados em bandas de terça de oitava e convertidos no campo sonoro livre ou difuso, e depois ponderados em A usando fatores de atenuação da banda de terceira oitava. O nível de exposição sonora ponderado, livre ou difuso, pode ser comparado assim aos limite legais como no Brasil a NR 15 anexo 1 e 2 e a NHO-01; quando corrigido na altura do ombro, isto é, calibrado para medir com os mesmos valores num ambiente com um áudio-dosímetro posicionado a 15cm da cabeça ou ombro. É importante notar que a função de transferência de manequins especificada na ISO 11904-2, usada para converter níveis de pressão sonora relacionados a campos livres ou difusos, é corrigida para produzir os mesmos resultados que a técnica MIRE na ISO 11904-1 para cada indivíduo, contudo com um valor médio para um ser humano, com a vantagem de não individualizar as correções, viabilizando o método e facilitando as avaliações ocupacionais.


Considerações especiais devem ser dadas à logística de campo, pois os trabalhadores que usam fones de ouvido devem dentro do possível executar suas tarefas normalmente enquanto as medições estão sendo realizadas. O uso da técnica MIRE, por exemplo, é incômoda e pode restringir os movimentos da cabeça e do corpo em algumas situações e, como tal, pode ter resistência dos trabalhadores quando mantidos por um longo período de tempo. Além disso, qualquer mexida no cabelo, coçada na cabeça ou movimento do fone para retirada e colocação, ocasionará colisões do microfone com geração de sinais espúrios e/ou ruídos de impacto, assim como deve-se fixar com fita na orelha para que o MIRE não se desloque na orelha, e ainda, o MIRE também pode bloquear o ruído externo o que pode ocasionar diferenças em ambientes muito ruidosos.


Com a técnica da cabeça artificial, o problema é que o trabalhador não pode realizar grandes movimentações no ambiente ou adentrar em outros ambientes mais ruidosos, quando o fone de ouvido é colocado no manequim, devendo-se realizar um split do sinal afim de manter os mesmos volumes, restringindo as possibilidades de movimentação na atividade, procurando contudo a EMR (exposição de maior risco) e separar as avaliações por ambiente para posteriormente compor as áudio-dosimetrias. A ISO 11904-2 não fornece procedimentos para superar esse desafio.  Portanto, várias abordagens foram criadas, como duplicar o sinal elétrico no fone de ouvido e usar dois fones de ouvido correspondentes, um usado pelo trabalhador e outro montado no manequim, os quais ficam com o mesmo volume e colocados próximos ao ambiente do trabalhador.


Portanto, a técnica com manequim com ouvido artificial padronizado e microfone de medição posicionado na pina e com as ponderações e correções adequadas quando acoplado a sonômetro ou audio-dosímetro seguindo a IEC 61252, ANSI 1.25 para ruído continuo ou intermitente e IEC 61672 para ruido de impacto, consolidam a configuração mais adequada para as questões ocupacionais que contemplam faixas de medição abaixo de 10kHz. Destaca-se que a maioria dos audio-dosímetros medem até 8kHz.


Então, para o teleatendimento esta técnica com a cabeça artificial é a mais adequada e perfeitamente aplicada, onde os fones emitem de 300 a 3400 Hz. Em radio difusão e televisão no mesmo ambiente e com as consideração destacadas está técnica também é a mais adequada e viável. Contudo, deve-se observar os casos onde há níveis elevados de emissões sonoras acima de 10kHz. as quais porém, são situação difíceis de encontrar em fones específicos para comunicação, pois causariam irritabilidade e dificuldade na comunicação, mascarando as conversas. 


Portanto, somente deve-se aplicar a Técnica MIRE quando: for claro a contribuição acima de 10 kHz, houver movimentação do colaborador para vários ambientes, as limitações na divisão dos sinais, impossibilidade de colocar as atividades no mesmo canal com sinais de áudio iguais e volumes fixos. Respeitando as limitações, como exemplo operador de rádio portátil e linha de shows em palcos ou em atividades com apenas um fone.


O sistema mais adequado é composto por diferentes fornecedores de cabeça artificial como a Neumann Ku100 ou a Bruel & Kjaer; o casador de impedância da 3R Brasil Tecnologia Ambiental e medidor audio-dosímetro especial da SVANTEK 102+ com adaptação BNC para sinal direto. Também pode-se aplicar a Ku 100 com o Larson Davis 706 com o casador de impedância específico ou microfone de pressão. A cabeça mecânica Ku100 é o único sistema que lineariza e possui um filtro passa baixa de 10kHz, compatível para a faixa dos áudio-dosimetros normalizados possibilitando maior exatidão e erros em ambientes com emissões acima de 10kHz.


Vídeo explicativo com a técnica ouro da cabeça artificial/manequim normalizado ITU (ISO 11904-2): Clique aqui.


Ref. 3R Brasil Tecnologia Ambiental / Puc-Rio

Roger